Hepatite A, leptospirose e influenza são alguns dos perigos ampliados nas enchentes
As condições climáticas desastrosas resultaram em enchentes no Rio Grande do Sul, que segue em estado de calamidade. Com isso, a vigilância sanitária e de saúde ressaltam os perigos do aumento da proliferação de doenças contagiosas e conscientização para os cuidados cabíveis.
Na situação de cheias, as doenças mais diagnosticadas são hepatites A, leptospirose, dengue e influenza. O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) desenvolveu um guia de cuidados para auxiliar a população e os profissionais de saúde na luta pela prevenção na atual condição.
Leptospirose
Apesar de ser mais evidenciada nos períodos de enchentes, a doença está presente o ano inteiro, com maior incidência em períodos de chuvas e áreas de condição sanitária precárias. A falta de diagnóstico agrava a condição, podendo levar a complicações sérias, que geralmente exigem internação.
A proliferação da leptospirose se da por uma bactéria infecciosa para homens e animais, e fazem deles reservatórios naturais. O contágio ocorre pelo contato à urina do animal infectado, água e lama contaminada; por isso, é associada a urina e contagio pelo rato de esgoto. Por meio de infecção direta ou indireta à excreção contaminada, as bactérias penetram na pele dos humanos e lá se hospedam. Após a contaminação, pode ou não acontecer a aparição de sintomas.
No diagnóstico precoce, são comuns sintomas como: febre, dores musculares, articulares e de cabeça, náusea e vômitos, manchas avermelhadas, fotofobia e vermelhidão nos olhos, tosse e diarreia. Como os sintomas da leptospirose são aproximados aos de outras doenças, é preciso investigação para garantir tratamento assertivo.
O tratamento é feito por antibióticos, e tem maior eficácia quando iniciado na primeira semana da percepção de sintomas. A grande maioria dos pacientes tratados se recuperam por completo, sendo raros os casos de piora do quadro quando houve intervenção precoce.
Em pioras, ou diagnóstico tardio, há o risco de síndrome de Weil, uma condição raríssima. Nessa fase da doença, os sintomas são mais graves, além dos já citados, pode ocorrer insuficiência renal, hemorragias pulmonares e icterícia, que usualmente pedem a internação, e alguns casos associado à intubação e hemodiálise. Apesar de incomum, o avanço de complicações graves e a falta de acesso a tratamento podem levar ao óbito.
A população de alto riscos das enchentes, como voluntários de resgate e pessoas expostas à água por longo período, foram indicadas a tratamento profilático, priorizando conter e erradicar a doença já em estágios iniciais, a ação é recomendada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Hepatite A
A hepatite é dividida entre 3 variações, são elas as hepatites A, B e C. A hepatite tipo A é caraterizada por doença infecciosa aguda, ocasionada pela contaminação viral do VHA, via transmissão oral-fecal, ingestão de alimentos específicos (como alguns frutos do mar) ou água contaminada. O vírus resiste as condições ambientais extremas e pode sobreviver na pele por até quatro horas, o que facilita a proliferação. Assim como a leptospirose, a doença tem maior incidência em ambientes de pouco saneamento básico, e se alastram com facilidade em enchentes.
É comum que a doença seja assintomática para o infectado, ou que leve tempo longo para manifestação de sintomas. Porém, mesmo sem sinais aparentes, o infectado é transmissor do vírus a partir do primeiro contato. Quando manifestados, os sintomas mais comuns são: febre, fadiga, inapetência, náusea e vômitos, urina escura e fezes amareladas; e infelizmente, são facilmente confundidos com outras doenças de menor gravidade, como virose comum (adenovírus).
As complicações da doença são raras, mas existentes. A hepatite fulminante é o agravamento mais comum, caracterizada pela falência hepática aguda, consequência da necrose e morte de células hepáticas. Pacientes acima de 50 anos tem maior chance óbito pela condição.
Ainda não há tratamento específico para a hepatite A, por isso, é orientado que o paciente evite a automedicação, de modo a preservar a saúde do fígado. Abolir o consumo de bebidas alcoólicas pelo período mínimo de 3 meses é indispensável. Ao apresentar más condições de saúde, o paciente pode ser orientado a receber imunoglobulina policlonal para auxiliar na imunidade e se proteger contra a infecção.
A hepatite A possui vacinas eficazes que podem ser aplicadas a partir dos 12 meses de vida. No ano de 2023, a vacinação desse vírus foi incluída ao calendário de vacinas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e segue com a distribuição em postos de saúde gratuitamente.
Influenza
A influenza é uma infecção aguda no sistema respiratório, a popular gripe, causada por vírus de grande potencial de transmissão. O contágio pode acontecer por contato com: saliva, secreções de espirros ou tosse de pessoas contaminadas, sendo contato indireto de secreção contaminada, e eventualmente, pelo ar. A doença é dividida entre tipo A, B e C, o tipo C causa sintomas leves, já os tipos A e B são mais severos e responsáveis pelas epidemias gripais.
O tipo A é encontrado em diversas espécies de animais, tem facilidade para mutações e possui alguns subtipos, como a H1N1 (gripe suína) e H3N2. Essa variante circula de forma sazonal e é a principal responsável pelas grandes epidemias. Já o tipo B tem menos potencial epidêmico, pelo seu baixo potencial para mutações. A influenza B atinge exclusivamente humanos e é transmitida da mesma forma que a variante A.
A gripe é facilmente confundida com o resfriado, porém, é importante fazer a distinção. O resfriado tem curta duração e afeta pouca parte, ou nenhuma parte, do pulmão, e geralmente não leva a sintomas mais sérios como febre ou dor no corpo, contrário da gripe, que pode acometer todo o pulmão e provocar graves reações, como febres altas, dor de garganta, falta de ar e, em piores casos, pneumonia.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece há alguns anos vacinação gratuita contra gripe, com reforço anual, principalmente para as classes prioritárias: crianças, idosos, pessoas com doenças crônicas, gestantes e profissionais da saúde. A prevenção por vacina é forma mais eficaz de evitar a doença, garante maior tranquilidade e evita piora dos quadros quando infectado, promovendo saúde estável e sistema imunológico fortalecido.
Vacinação
O estado do Rio Grande do Sul recebeu milhares de vacinas, enviadas pelo Ministério da Saúde, para zelar pelo bem da população. A chegada do frio causa preocupação, a prioridade é o controle de doenças respiratórias, especialmente em crianças, idosos e gestantes. Os imunizantes disponibilizados recomendados às equipes médicas e de resgate são contra a influenza, COVID-19, tétano, hepatites e raiva.
Os imunizantes são aplicados de forma gratuita nos novos pontos de vacinação e até mesmo nos abrigos para todos os gaúchos. Há também unidades de vacinação contra picadas de animais peçonhentos, voltados prioritariamente às equipes de resgate e bombeiros.
Também foi adotada a decisão de facilitar a retirada de medicamentos para a população, dispensando necessidade de prescrição médica e documentos de identificação, que em muitos casos foram perdidos com as cheias.
Solidariedade e Saúde
É crucial que as ajudas sigam crescendo, com doações, acesso a medicamentos, consultas e direitos básicos de saúde.
Infelizmente a enchente traz como consequência a proliferação de muitas doenças, que podem ser graves, e afetam uma população já estremecida. Prevenir e preservar a saúde física dessa comunidade abalada é prioridade para os ministérios de saúde, e à toda população brasileira.
A saúde é necessária para garantir forças para reconstrução da cidade e das vidas pessoas, e é um direito do cidadão ter ela preservada!