O diagnóstico, mesmo que tardio, é fundamental para o processo de autoconhecimento e conscientização. 

O mês de Abril é dedicado a conscientização mundial do transtorno de espectro autista (TEA). O tema que foi restrito por muito tempo vem ganhando visibilidade, e como consequência, há um aumento de diagnósticos e tratamentos assertivos do autismo, principalmente na nova geração. Porém, quando falamos do diagnóstico de adultos de forma tardia, ainda há um impasse significativo e um acesso a informação mais limitado.

Para entendermos melhor a situação, é necessário partir do entendimento do que é o TEA. O transtorno do autismo não caracteriza uma doença, trata-se de uma condição de distúrbio do neurodesenvolvimento, se enquadrando como deficiência neurológica. Essa condição se faz presente já nos primeiros anos de vida, como é uma variação do funcionamento típico do cérebro, e não é uma questão curável, mas apta a tratamento.

O desenvolvimento dos sintomas do TEA são mais comumente preferência por atividades e comportamentos restritos e repetitivos, e os déficits de atenção, comunicação e interação social. Podendo se apresentar de forma leve, mediana ou intensa.

 

simbologia do transtorno de espectro autista

 

Níveis do autismo

O espectro do autismo é dividido entre grupos de níveis diferentes de acordo com a intensidade da limitação de informação de cada pessoa. A nivelação é importante para auxiliar no atendimento e tratamento médico e psicológico:

  • Nível 1: Tem prejuízos na sociabilidade de forma leve; apego a rotinas e hábitos, com tendência a sentir ansiedade e desconforto quando passa por mudanças necessárias; apresenta comportamento de movimentos repetitivos de forma leve, como mexer as pernas enquanto sentados ou gesticular bastante com as mãos; dificuldade de organização.
  • Nível 2: Maior resistência a interação social e mudanças, podendo reagir com crises de ansiedade; apresenta comportamento de movimentos repetitivos que alteram de intensidade.
  • Nível 3: Há déficit de comunicação verbal ou não verbal; grande dificuldade com interações; comportamentos repetitivos constantes; resistências a mudanças.

Apesar dessas características comuns dos grupo, cada indivíduo autista apresenta suas particularidades e seu nível não é limitação para desenvolvimento social ou intelectual.

 

Diagnóstico de adultos

O diagnóstico já na fase adulta, é em grande maioria de indivíduo com espectro autista de nível 1, que podem se desmascarar como pessoas muitas tímidas, caseiras ou metódicas, o que posterga a percepção dos sintomas.

A procura pelo diagnóstico acontece geralmente após contato com o TEA de sintomas leve, seja por meio de notícias, especialistas ou relação com um neurodivergente diagnosticado. A partir desse momento, iniciam as validações de sintomas da vida do adulto. É comum também que o indivíduo procure tratamento de outras questões, como seletividade alimentar, depressão e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e acabe descobrindo a existência do espectro autista.

Quando criança, não há autonomia para se ausentar ou agir de formas diferentes em situações incomodativas para o autista. Já na vida adulta, quando não há o diagnóstico e tratamento, o indivíduo aprende a disfarçar as reações e/ou se ausentar dessas situações com receio de não serem compreendidos, é o que chamamos de “masking”, que não passa do ato de criar uma “máscara” de autodefesa gerada pela ansiedade.

A partir do momento do diagnóstico, o adulto passa a contar com uma equipe multidisciplinar que acompanha seu desenvolvimento e auxilia no seu autoconhecimento. Nessa fase, é comum que aconteça uma validação de situação vividas que podem ter causado algum tipo de trauma, em alguns casos acontece a intervenção de apoio para áreas específicas, como aprendizado de interação e demonstração de sentimentos amorosos. É um processo de reeducação.

Em casos agravados de esgotamento social pode se desencadear crises, que são mais comuns em pessoas não diagnosticadas ou em diagnóstico tardio. Nessa situação podem acontecer crises de meltdown, que se assemelha a uma crise de ansiedade e pânico mais agressiva; shutdown, quando acontece a reclusão total ou parcial de estímulos e fala; burnout, que é o esgotamento total da mente e corpo.

 

adulto em processo de diagnóstico de autismo

 

Hiperfoco

O hiperfoco é um traço extremamente comum do autismo que atinge todos os níveis, caraterizado pelo interesse e hiperatividade anormal sobre um assunto específico.

É comum que em pessoas com o espectro de sintomas regulares, o hiperfoco faça com que tenham facilidade de aprendizado e inteligência acima da média. Quando o interesse exacerbado acontece, a memória do neurodivergente grava os conteúdos lidos, assistidos ou escutados de forma quase que imediata, em compensação, tem uma resistência maior em lembrar de fatos cotidianos, nomes e direções básicas.

O psiquiatra, podcaster, youtuber e escritor Alexandre Valverde foi diagnosticado com 42 anos, quando já era formado em psiquiatria e atuava na área. O hiperfoco majoritariamente em ciência ajudou a facilidade da sua formação médica e mestrado em filosofia, além de idealizar seus projetos sempre com êxito e facilidade, porém, Alexandre afirma ter vivenciado dificuldades em relações afetuosas e necessidade de rotina rigorosa para conseguir concluir suas tarefas sem ser tomado por episódios de ansiedade.

Para adultos com sinais ou suspeita de TEA, a especialidade aconselhada para o início do diagnóstico é a psiquiatria. Durante o processo, o profissional contará com auxilio de diversos especialistas para testes e tratamentos, como fonoaudiólogos, psicoterapeutas, fisioterapeutas, nutricionistas e outros. Porém, o diagnóstico final e indicação de medicamentos (quando necessário) é realizada somente pela especialidade presente na clínica Prómais de médico psiquiatra.

O tratamento com toda a equipe multidisciplinar se estende após o diagnóstico para trabalhar abordagens de normalização e auxílio para garantir uma melhor qualidade de vida ao indivíduo adulto com transtorno de espectro autista.